domingo, 4 de novembro de 2012

Eu, Veterana


 Eu sei, eu sei. Prometi que ia postar sobre isso várias semanas atrás, mas a preguiça de procurar fotos para o post foi maior. Agora, como a preguiça de arrumar a casa é maior do que qualquer outra coisa, here we go!

"EU, VETERANA?!"

 Primeiro de tudo, que coisa interessante (pra não falar perturbadora) pensar que já se passou um semestre inteirinho e eu, pessoa mais perdida do universo, sou uma ~veterana~!
 Digo, na minha cabeça "veterano" é aquele que sabe bastante sobre a coisa, tá acostumado, sabe as manhas e tal... bom, a única coisa de valor que eu sei por enquanto é que o banheiro do prédio de zoologia sempre tem papel higiênico. E até que é uma informação útil...

 Segundo, é realmente engraçado receber como "calouros" pessoas que tem a mesma idade que você, concluíram o ensino médio no mesmo ano e inclusive fizeram o vestibular contigo. Eu não me sentia na posição de "veterana" ante eles, mas a coisa até que se desenrolou bem.

 No meu trote, eu não entendia como os veteranos podiam ser tão absurdamente animados, cantando e gritando; achava que quando eu fosse veterana não ia ter aquele pique todo. Pois muito me enganei. No trote dos meus bixos acho até que fui uma das mais terríveis animadas. Em virtude disso, nas fotos dos /02(meus bixos) eu quase não apareço, ou apareço como uma mão pintando calouros indefesos (muahahaha).

 Aliás, dessa vez vou postar as fotos sem aquele formato bonitinho, pra vocês poderem observar a situação tal como foi registrada.





 Minha memória anda deficiente, então não consigo lembrar quando foi a primeira vez que eu vi os bixos; acho que foi lá por junho, quando eles vieram se matricular e a gente fez uma "recepção" para eles. Eu cheguei cedo, tinha pouca gente ainda, e todo mundo estava meio "oh meu darwin, daqui a pouco os bixos vão chegar, e aí, o que a gente faz???". 

O plano era ficar na porta do prédio onde eles iam fazer a matrícula e, quando eles saíssem, pintar a cara deles e tirar fotos. Bom... eu me empolguei com o lance da pintura, como é possível ver nas fotos.




 Teve bixo que tentou escapar, mas com meus olhos de águia percebi a tempo e os malandros prontamente receberam uma estampa de "Bio Fugitivo" em suas faces. Estampa esta que eu fiz com um batom preto que mais tarde revelaria-se absolutamente impossível de tirar, deixando um rastro pink no lugar antes pintado de preto.


A melhor coisa dessa foto é minha cara de satisfação.
 A inspiração correu solta e a maldade também, de forma que da ponta do pincel batom surgiram os mais variados desenhos: borboletas, folhas, corações, bigodes de gato... Tem várias fotos das minhas vítimas obras de arte.




 Acho que não teve um bixo que não tenha sido agraciado com a minha intervenção. Até os que já estavam pintados receberam um toque especial.

"Será que já pintei o suficiente?"

"Acho que sim, rsrsrsr"

"Tive uma ideia!"

"Bigodinhos ondulantes... ótimo."

 Lembro que no dia seguinte ao que essas fotos foram tiradas teve mais bixos se matriculando, mas eu acordei atrasada e acabei não chegando a tempo; fomos almoçar no incrível, mágico, fantástico e higiênico RU com eles pela primeira vez, tiramos foto no DAIB, sentamos na graminha da biologia (acho que isso pode ser interpretado da forma errada)...



Bixete caçando veterano... pode isso?

E viva o RU!

A próxima vez que nos encontramos foi no trote, que foi em setembro, primeira semana de aulas. Daí sim veio toda a história de plaquinhas, de musiquinhas, de tinta, purpurina e erva-mate.

Sim, erva-mate. Pra ficar com o cheiro o dia todo!
 Foi uma zona só. Curioso passar por aquilo de novo, só que agora como veterana; era tinta pra tudo que é lado inclusive no meu casaco, e não saiu até agora, purpurina até dentro do ouvido... 


 Teve elefantinho, Ola de Bunda, roda de apresentação na Redenção, do jeitinho que fizemos quando fomos bixos. Não esquecendo as musiquinhas berradas por todo o trajeto, e a coleta do dinheiro para o acampamento. O dia estava frio e chuvoso, então a coisa não rendeu tanto, mas foi bem legal.

Apresentação

Elefantinho

Ola de Bunda
 
 Conhecemos melhor os bixos e matamos aula de bioquímica e tivemos nossa "vingança". Eu, pelo menos, me diverti horrores. Fiz até um moicano de tinta na Paola.

Minha obra-prima.

Nos dias seguintes fomos nos acostumando com o status de "veteranos", ajudando bixos perdidos pelo Vale, aterrorizando eles sobre os professores... Tem um esquema de apadrinhamento, quando um bixo escolhe um veterano pra ser seu "dindo", e daí seu escolhido ajuda o afilhado com dicas, material de estudos e tal o que na prática não é muito necessário, já que o material de estudo é amplamente compartilhado (pelo menos na biologia, acho). Eu fui escolhida pelo Bruno, que é simplesmente o afilhado que eu pedi a deus. Tão parecido comigo ele é, que no dia do apadrinhamento a gente acabou não se encontrando: eu estava afastada do bolo de gente e ele não me viu, achou que eu não estivesse lá e, não querendo ficar mais tempo no meio da barulheira, foi embora. Mas deu tudo certo e dias depois ele pediu pra eu ser a "dinda" dele!

Verdade seja dita, não tem muita diferença dos bixos pros veteranos. Semestre que vem vários deles farão cadeiras conosco - alguns inclusive já fazem. Ainda bem, até porque se eu fosse ter que ser uma veterana séria e que sabe das coisas, e meus bixos dependessem de mim, eles estavam perdidos!!!

Foto da recepção dos BIOBixos 2012/02!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Faculdade Faz Bem pra Criatividade

 Já havia bastante tempo que eu sequer pegava um lápis pra desenhar. Se foi falta de tempo, falta de ânimo, se foi excesso frustração, se foi tudo isso... não sei. Só sei que senti falta.

 Qual não foi minha surpresa ao saber que teria obrigatoriamente que desenhar nas aulas de biocel e de morfo? Até me animei em fazer uma oficina de desenho científico - só que não consegui uma vaga.



Mais surpresa fiquei ao sentir aquela vontade, tão familiar, de pegar um papel e rabiscar. E isso me deixou 
tão feliz, meu bom Darwin, tão feliz! Esse post vai ser muita foto e pouca/nenhuma explicação!












 Caixas, prédios, flores, arabescos, bailarinas, borboletas, caramujos, dinossauros, lagartixas, árvores, paisagens, rabiscos, auto-retratos, folhas, janelas e tudo mais, que saudade que eu estava de vocês.

domingo, 30 de setembro de 2012

As Cadeiras do Primeiro Semestre

 Um semestre se passou, desde que comecei o blog. Um semestre to-di-nho! É meio estranho pensar que, dos teoricamente oito semestres de curso, um já foi!

 Nota: eu ia colocar fotos nesse post pra complementar os textos e quebrar um pouco a monotonia, mas o blogger não tá colaborando. Vou colocar as imagens no post "Faculdade Faz bem Pra Criatividade", então. Aguardem!

 A super greve das federais não afetou tanto a UFRGS (ou pelo menos o meu curso). Quando a confirmação da greve saiu, eu já estava praticamente em férias e os professores avisaram que só iriam segurar as notas até o fim da greve, mas todo mundo já sabia se tinha passado ou não. Vou contar um pouco de cada matéria, dos trabalhos, provas e surtos narcolépticos coletivos. Vaaaamos lá:


  • Biologia Celular I:
     A famosa aula de Biocel, às segundas-feiras. Comentei no post sobre a faculdade que tive um sono terrível desde a primeira aula teórica. Ao que tudo indica, todo mundo teve e todo mundo sempre tem. Mas é questão de costume; lá pro fim do semestre eu me acostumei e conseguia ficar 100% acordada nas aulas. A professora da aula teórica, a Nívia, é ótima profissionalmente e é um amor de pessoa(foi ela, aliás, que me indicou a veterinária onde levei a Marreca).

     A matéria da teórica em si é GIGANTE, IMENSA e COLOSSAL. De início deu até medo, era tanta coisa que eu pensava "meu deus, como alguém pode lembrar de tudo isso?!", mas com a repetição a coisa foi se fixando. A Nívia foi realmente bacana. Ela esteve doente por um período, mas voltou assim que possível a dar aula. Certo dia, como estávamos com a matéria atrasada, ela agendou uma aula extra a tarde. Naquele dia tivemos um total de sete horas de aula. Os alunos agonizando e ela lá, firme e forte. Devo confessar que isso me despertou uma grande admiração por ela.

     Na aula prática, a professora era outra. Eu não tenho nada pessoalmente contra ela, mas ela era um pouco... como posso dizer... sem paciência. Eu adoro aula prática, observar lâminas, desenhar e tal, por isso acabei relevando; outras pessoas que não curtem tanto ficaram bem descontentes com a aula e o jeito dela. MAS o fato é que eu adorava a aula, e que fizemos umas coias bem legais, tipo um modelo de membrana basal de massinha e usamos o resto pra fazer bichinhos.

     Tivemos uma prova prática de microscopia óptica - eu e a Carol, no maior desespero, estudamos os slides na porta da sala - mas foi bem fácil. Antes de começar, a Carol estava nervosa, e eu dei uma olhada pra ela no meio da prova pra ver se ainda estava. A professora viu e insinuou que estávamos colando. Não estávamos. Eu pensei em ficar quieta, mas resolvi falar com ela. Quando os outros alunos já haviam saído, fui esclarecer o ocorrido afinal, eu tinha tirado 8,5 e a Carol 9, não era exatamente como se a gente precisasse colar. Ela respondeu "Arrã." e ficou por isso mesmo. No fim das contas ainda ajudei na correção das provas teóricas, eu sou uma maria-mole mesmo.

  • Cálculo Diferencial e Integral:
     Pois é, minha gente. Biologia tem cálculo também - ou, no caso, tinha. É, sortuda que eu sou, entrei na última barra em que cálculo era obrigatório. A cadeira em si não era nada de mais; até eu que sou meio tapada em cálculo tava conseguindo acompanhar. Fiz a primeira prova, tirei 6 (eu e mais a torcida do Corinthians)... Tudo estava ótimo até, duas semanas antes da segunda e última prova, eu perder meu fichário com TODAS as minhas anotações. Daí dei zilhares de voltas no Campus do Centro tentando encontrar alguma informação sobre ele; fui em recepção de prédios, fui em guaritas de estacionamento, fui na prefeitura universitária... nada.

     Me conformei e fui tentar correr atrás do prejuízo. O problema é que eu simplesmente não consigo estudar sem as minhas anotações. Eu até tirei xérox de outros colegas, pedi pra me explicarem e tal, mas não rolou. Fiz a prova e fiquei de exame por meeeeeeio ponto na média. Estava eu pensando, assim é a vida, até que ouvi de vários amigos em situações parecidas que o professor havia liberado eles do exame. Fui conversar com o professor pra explicar o caso; ele revisou minhas provas, inclusive uma questão na primeira prova (que valia dois pontos) que ele havia considerado inteira errada. Ele ~falou~ na minha frente que a questão estava meio certa, esse meio certo seria o meio ponto na média que faltava. Só que ele não corrigiu, ele sorriu e me disse que eu ia ter que fazer o exame. Eu agradeci, me levantei e educadamente saí da sala dele.

     Daí fiquei pensando: que adiantava ir fazer o exame? A matéria seria só da segunda área, que eu não tinha conseguido estudar. A única possibilidade seria colar, e eu realmente não queria fazer isso. Respirei fundo, peguei o ônibus e fui pra casa. Rodei, mas não me arrependo.

  • Campo Profissional da Docência em Ciências e Biologia:
     A primeira aula do semestre foi super legal, como eu comentei naquele outro post. Nas semanas seguintes, a coisa foi decaindo. Claro que teve coisas boas; eu adorei, por exemplo, o trabalhos de entrevista com um professor e da apresentação de uma aulinha (a nossa foi sobre genética)... mas as palestras, as leituras que a professora trouxe, não me acrescentaram muita coisa. Várias coisas que foram ditas me soavam tão óbvias, tipo "oh, mas o mundo dos professores é tão diferente do dos alunos, vocês nem imaginam". Acredito que, novamente, o lance seja a minha vivência no Objetivo.

     A professora em si... bom, ela tinha um hábito bem incômodo de interromper os palestrantes para lembrar aos alunos da incrível oportunidade que eles estavam tendo ou, no caso, estariam tendo se ela mesma não estivesse cortando os palestrantes de cinco em cinco minutos. É só.

  • Campo Profissional do Bacharel em Ciências Biológicas:
     Seguindo bem a proposta da cadeira, tivemos diversas palestras para ver o que alguém que estuda biologia pode fazer além de virar professor. As primeiras aulas foram com o professor Jorge, que falou sobre conceitos gerais de ciência, como é importante o questionamento, como funciona a área do bacharel e tal. Tivemos aula com uma professora, Mara se não me engano, que nos falou sobre artigos científicos, referências e resumos. Ela nos pediu para fazer o resumo de um texto e eu tirei 10 muahahaha, foi bem bacana. Tivemos uma palestra com um perito criminal, igualmente bacana.

    Entretanto, a cereja do bolo foi mesmo a palestra do Guido sobre... bem, sobre a vida dele. Enquanto ele contava sobre a trajetória de vida dele, e das coisas que ele tinha feito, eu pensava "meu deus, eu nunca vou conseguir ser tão incrível assim!". Resultado, cheguei em casa chateadíssima. Quando expliquei pro Alex porquê, ele me deu uma bronca e disse que eu não ia conseguir resolver minha vida em um dia só.

    Até é verdade, mas que eu quero ser incrível assim algum dia, eu quero.

  • Física para Ciências Biológicas:
    No começo, eu morria de sono nessa aula (era logo depois do almoço, dá um desconto). O professor era o Braun, que me lembra o Módolo no quesito "professor de física maluco". Que fique claro que esse "maluco" não tem sentido negativo, é mais um indicativo de como as aulas eram não-convencionais.

     Primeiro que eu não precisava anotar nada na aula, só prestar atenção. E, olha, achei isso ótimo. Segundo que ele fazia umas loucuras pra explicar a matéria que eram demais (exemplo: subir numa base giratória com uma roda de bicicleta nas mãos e ficar rodando no meio da sala). E terceiro que os trabalhos propostos por ele eram bacanérrimos. Teve um sobre a locomoção de uma lagarta de mariposa que me fez bater de porta em porta no setor de entomologia, e outro que me fez consultar 5 livros diferentes e todos os professores de botânica que eu consegui achar.

     Esse último trabalho foi aquele que eu havia comentado no outro post, sobre Seiva Bruta. O Braun me veio com umas perguntas loucas que eu não encontrava resposta exata em livro nenhum, e que eu tive que me virar pra responder. Parece trabalhoso, e realmente foi, hahaha. No geral, foi uma matéria ótima.

  • Morfologia Vegetal:
     Seguramente, minha matéria preferida. E não só por ser relacionada à botânica, mas também porque nessa aula eu só precisava desenhar os materiais e identificar as estruturas neles. Teoricamente você precisaria também decorar tooodos os nomes de tooodas as estruturas, mas aquele dito de que quando você desenha você acaba memorizando é a mais pura verdade. Além do mais, meus queridos professores Pereira e Betinha já haviam realizado um excelente trabalho em me fazer memorizar o conteúdo. O professor dessa matéria se chamava Rinaldo, e ele não tinha uma fama lá muito boa entre as meninas. A professora auxiliar era Alessandra, e ela era um amor.

     Acho que futuramente me candidatarei à monitora nessa disciplina.

  • Química Inorgânica Ambiental:
     A matéria cuja professora era peruana, que se chamava Leliz Ticona, lembram? Então. Sinceramente, não tenho muito a comentar sobre essa matéria. No meio do semestre a Ticona foi substituída por umas aulas, mas depois voltou. O comentário entre os meus colegas era que a aula era praticamente igual a um dos livros da bibliografia recomendada.

     Não tive maiores incidentes nessa aula fora o do teste; a única coisa significativa é que eu acabei faltando à uma aula e, justamente naquele dia, um professor diferente deu uma aula com nitrogênio líquido e fez umas coisas loucas lá. Todo mundo adorou a aula... menos eu, que não estava lá. Esse semestre vou tentar assistir.

  • Química Orgânica Teórica Fundamental:
     Nessa cadeira tivemos um professor cujo nome não me lembro (vergonha). As aulas eram tranquilas, o único problema era que a letra dele era beeeem difícil de entender. A primeira prova era praticamente só funções orgânicas, que não foi problema no colegial. Adivinha só? Tomei um D bonito pra aprender a não folgar.

     
    Confesso que eu não mereci tamanha bondade do professor - afinal de contas, era só não ter subestimado a matéria - mas ele me disse que se eu tirasse B na segunda prova, não precisava fazer o exame. Criei vergonha na cara, estudei, tirei meu B tranquilamente e terminou assim. Muita gente achava o professor esquisito. Ele me parecia meio incompreendido, de fato, mas não era um mau professor.

  • Zoologia de Campo:
     Essa foi minha segunda preferida. Quem me conhece sabe que uma das coisas que eu mais gosto desde criança é me enfiar no mato atrás de bicho, então nem precisa muita explicação do porquê. O funcionamento dessa cadeira basicamente era: vai a campo, coleta, faz triagem, faz relatório e apresenta o seminário.

     A primeira saída foi para praia, em Tramandaí. Logo que começamos a coletar eu senti algo estranho, começou a me dar cólica. Eis que era aquele maravilhoso momento do mês que toda mulher conhece. Minha sorte foi que eu estava com o meu "kit de primeiros socorros" na mochila. Voltei, continuamos a coleta, eu anotando os achados de um jeito completamente desorganizado mas tava ótimo...
     Pausa para o almoço: eu havia preparado uma cesta de piquenique com todo o amor do meu coração para o meu grupo - obviamente fiz sanduíches demais - e todo mundo se empanturrou. Depois começamos a triagem e identificação, e eu fiz as minhas anotações bagunçadas virarem o mais organizado, completo e maravilhoso relatório de campo já produzido. Sem falsa modéstia. Depois disso eu virei a "guria" das anotações.
     O seminário sobre a coleta foi bem tranquilo. O professor disse que umas coisas que eu tinha falado doeram no ouvido dele e outros comentários cheios de amor desse gênero, mas estranhamente meus colegas acharam que tava ótimo. Há quem diga que ele ficou com o orgulho ferido, há quem diga que ele percebeu que eu tinha potencial e tentou me incentivar... não sei [spoiler], só sei que no fim das contas eu tirei A[/spoiler].

     A segunda saída foi na verdade coletar invertebrados num bosque lá dentro da faculdade mesmo. Fiquei responsável pelas fotos e anotações, o trabalho braçal de bater nas árvores para os bichos caírem ficou pros meninos. Eu não sei se você, leitor, sabe, mas eu não sou exatamente uma grande fã de aranhas. E lá tinha aranhas. MUITAS.
     Terminada essa parte, fomos para o laboratório fazer a triagem. Havíamos coletado também amostras da camada de folhas, e para essa parte era necessário peneirar porções do material. Eu estava lá, tentando, quando o professor parou na minha frente e começou a tirar sarro de mim, perguntando se eu não sabia fazer bolo. Ao que tudo indica eu não estava peneirando o negócio de maneira muito eficiente, e o modo mais prático era que nem se peneira farinha para um bolo. Sorry, eu só faço bolo de caixinha. :(
     Fiquei eu como responsável por fazer a introdução e a metodologia do relatório, e juntar e editar a coisa toda. Sabendo como estudante é, o que foi que meu grupo fez? Fez o relatório com antecedência? ~NÃÃÃÃÃO! Deixou tudo pra última hora!!!
     Resultado? Ana Maria chegou em casa, segunda-feira de noite, depois do treino. Sentou no sofá, pegou o computador e digitou. E digitou. E pesquisou. E não achou. E se desesperou. E improvisou. E digitou... até que eram 07:00 da manhã de terça-feira, quando ela finalmente terminou o relatório, que deveria ser entregue às 08:30. Detalhe: naquele mesmo dia foi a apresentação do seminário da primeira saída, que eu falei aí em cima. Ana Maria então tomou banho correndo, se vestiu correndo, foi pra faculdade correndo, chegou lá e... a apresentação de seu grupo seria de tarde. Ana Maria então foi procurar um lugar para cochilar. Entrou no DAIB (que estava vazio), se enrolou numa poltrona e dormiu. Acordou por puro acaso, com o DAIB cheio de gente e ela no meio; acordou faltando quinze minutos para a apresentação. Que fique claro, não me orgulho disso. Mas todo mundo tem que fazer isso ao menos uma vez, né?

     
    A terceira saída foi para Eldorado do Sul. Fomos coletar cobras, lagartos, sapos e peixes. Eu, Diego e Lúcio achamos um sapinho super fofinho - só que tivemos que virar ogramente um tronco de árvore pesadíssimo para tal. Não encontramos muita variedade, porque chegamos atrasados e já estava muito quente. Fomos então coletar peixes num arroio, e eu descobri que eu sou PÉSSIMA pra isso e que não quero trabalhar com peixes nunca, hahaha.
     O RU da Estação Agronômica Experimental, onde estávamos, tinha simplesmente a comida mais deliciosa que eu já imaginei comer num RU. Até a água de lá era melhor que o esperado.
     Voltamos para Porto Alegre. Na semana seguinte, fizemos a triagem dos peixes coletados e, meu deus, como aquilo dá trabalho. Meu grupo decidiu fazer o último relatório e seminário sobre os anfíbios coletados, e foi relativamente tranquilo.

     Assim terminou a cadeira de zoologia de campo, com eu ganhado um A de Tia Namá!

A Gata

Era uma noite fria e silenciosa, dia dez de maio do ano de dois mil e doze, quando ouvi o telefone tocar. Do outro lado da linha, Alexsandro me implorava que fosse abrir a porta. Pensei "O maldito perdeu a chave de novo".

Ao me encaminhar para a entrada do edifício reparei em algo inusitado - o homem não aguardava junto ao portão, mas sim do outro lado da rua. Num primeiro momento nossos olhares se cruzaram, mas logo em seguida minha atenção foi tomada por uma mochila que ele carregava como se fosse um bebê.

Tomada pela curiosidade, atravessei a rua. Ao me aproximar, notei que ele ninava a mochila - que, por sua vez, emitia um choro alto, não humano. Notavelmente perplexa, me dirigi a ele: "Seu filho da mãe, se você estiver me sacaneando, eu mato você".

Ele não respondeu; apenas indicou, com um aceno de cabeça, que entrássemos no prédio. Enquanto passávamos pelos portões, o choro agudo e desesperado que a bolsa emitia me dava calafrios. Eu pensava "Isso não pode ser verdade", enquanto finalmente abria a porta do apartamento de número 103.

Dentro de casa, ele ordenou: "Entra na cozinha e fecha a porta". Eu obedeci, mas repliquei: Você sabe que se isso for brincadeira eu te mato, né?". O choro na mochila se intensificou. Alexsandro se sentou numa velha cadeira de madeira, com o pacote no colo. Me aproximei. Suas mãos grandes e calejadas realizaram, num piscar de olhos, a abertura da bolsa.

Neste momento aconteceu o incrível. Uma cabeça felina se pôs para fora da abertura. Seus pelos eram amarelo-alaranjados, e seus olhos eram verde-pistache. O choro cessou, dando lugar à miados esparsos - estranhamente semelhantes ao som que aqueles patinhos de borracha fazem.

"Era verdade mesmo", pensei. Alexsandro, como se tivesse visto o pensamento em meus olhos, disse: "Eu não poderia deixá-la lá".

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 Assim, meus caros, é que surgiu a Marreca Godzilla. Para quem interessar possa, o primeiro nome surgiu do miado engraçado dela; o segundo, do curioso hábito de ficar sobre as duas patas traseiras e atacar as coisas que ela tem. O Alex resgatou ela de do meio de um bando de cachorros, em Eldorado do Sul. Ela seguiu ele até a escola de Pa Kua, e ele sem titubear enfiou ela numa mochila e trouxe pra casa. A veterinária disse que ela deveria ter cinco ou seis meses. Decidimos então que o aniversário dela então é dia 16 de janeiro, entre o do Alex (dia 06) e o meu (dia 26).



 Desde aquele dia, minha vida deu um duplo twist carpado. Eu sempre quis ter um gato, mas digamos que é um pouco diferente "querer" e "ter". No primeiro dia, ela correu pra área de serviço e se meteu embaixo de uma mesa. Coloquei cobertas pra ela ficar lá, junto com água e ração. A Questão Xixi me preocupava; não sabia se ela ia se adaptar à caixa de areia, já que ela era de rua e tal. O Alex comprou a caixa o mais rápido possível, e eu coloquei ela no banheiro da área de serviço. Naquele dia, fiquei na expectativa... até que ela foi até o lixo, na cozinha, e fez xixi ao lado. Me desesperei, pensei "ah meu deus, eu não entendo nada de gato, como que eu vou fazer ela usar a caixinha?!". Acabei colocando a caixa ao lado do lixo. 
 Naquela noite, fiz promessa pra todos os deuses possíveis e imagináveis pra que a gata aprendesse a usar a caixa. No dia seguinte, o pedido foi atendido. Como eu não sei quem foi que atendeu, não vou virar devota de nenhum pra não cometer nenhuma injustiça, né?




 A Marreca já me rendeu diversas histórias; ela já deu de cara no vidro tentando caçar um sabiá-laranjeira, já escalou um armário de mais de dois metros de altura, já se escondeu embaixo do sofá-cama e quase matou eu e o Alex infartados... Acho que a coisa que eu mais gosto é o barulhinho que ela faz quando está prestes a pular na cama ou no sofá. É uma graça, não dá pra explicar.





 Claro que ela já fez coisas ruins e me fez pensar que o meu lance definitivamente é cachorro, também. Nas primeiras semanas ela me arranhava sem dó, me mordia, não deixava eu fazer carinho. Fora as coisas que ela pega, derruba, morde, rói, destrói...
 Ela faz coisas completamente aleatórias, tipo escalar a cabeceira da cama por trás (entre a madeira e a parede) ou passar por trás do rack na sala (e puxar vários fios da tv e do roteador no processo). O problema é que ela tem uma carinha tão, mas tão bonitinha que eu não consigo ficar brava.





Ela apronta todas, me despreza, tenta roubar o Alex de mim... mas ainda assim eu amo essa peste. Ela começou a dormir na cama comigo há uns dois meses, e recentemente ela começa a ronronar quando eu pego ela no colo. Daí eu seguro ela que nem um bebê e ela dorme! Não consigo resistir!